Licopeno e Câncer: Potencial Terapêutico
- Projeto Sementes do Bem
- 18 de jul.
- 4 min de leitura

A crescente busca por estratégias terapêuticas mais seguras e eficazes no enfrentamento do câncer tem direcionado a atenção científica para compostos naturais com ação biológica comprovada. Entre esses compostos, o licopeno — um carotenoide lipossolúvel responsável pela coloração vermelha de frutas como tomate, melancia, goiaba e pimentão vermelho — destaca-se por suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antitumorais.
Um artigo publicado em 2025 na revista Food Science & Nutrition apresenta uma revisão sistemática e abrangente sobre os mecanismos moleculares pelos quais o licopeno atua na prevenção e tratamento do câncer, compilando evidências experimentais e clínicas robustas.
O que é o Licopeno?
O licopeno é um carotenoide acíclico da família dos tetraterpenos, com estrutura composta por 11 ligações duplas conjugadas, conferindo-lhe alta capacidade de neutralizar radicais livres. Sua atividade biológica é superior à de outros carotenoides como β-caroteno e luteína, especialmente no que se refere à capacidade de sequestrar espécies reativas de oxigênio (ROS).
Por ser lipossolúvel, sua absorção depende da presença de lipídios na dieta e de um processamento térmico adequado, que promove a isomerização da forma trans (menos biodisponível) para formas cis (mais biodisponíveis). Alimentos processados como molho de tomate, suco de goiaba ou ketchup podem, paradoxalmente, ser fontes mais biodisponíveis que o tomate cru.
Ação Antioxidante e Prevenção do Dano ao DNA
O estresse oxidativo é um dos principais gatilhos da transformação maligna de células, favorecendo mutações genéticas, instabilidade cromossômica e progressão tumoral. O licopeno atua como um potente neutralizador de ROS e espécies reativas de nitrogênio (RNS), protegendo o DNA celular contra quebras e mutações.
Estudos clínicos mostraram que a suplementação de licopeno (em doses entre 10 e 30 mg/dia) reduz marcadores de dano oxidativo como 8-hidroxi-2’-desoxiguanosina (8-OHdG) na urina e malondialdeído (MDA) no sangue, além de aumentar os níveis de enzimas antioxidantes como SOD, GSH e catalase.
Mecanismos Moleculares

O licopeno interfere em múltiplas vias de sinalização celular que estão frequentemente desreguladas no câncer. Entre seus principais mecanismos moleculares, destacam-se:
Inibição da via PI3K/Akt/mTOR, responsável pela sobrevivência celular, crescimento e angiogênese tumoral.
Supressão da via Wnt/β-catenina, importante na diferenciação celular e metástase.
Redução da expressão de NF-κB, fator de transcrição envolvido na inflamação crônica e resistência à apoptose.
Modulação de genes apoptóticos, como aumento da razão Bax/Bcl-2 e ativação de caspases.
Indução da parada do ciclo celular, principalmente nas fases G0/G1 e G2/M, inibindo a proliferação descontrolada.
Melhora da expressão de genes supressores tumorais, como BRCA1 e BRCA2, particularmente em linhagens de câncer de mama.
Evidências em Cânceres Específicos
🧬 Câncer de Próstata
O licopeno tem sido amplamente estudado no câncer de próstata, com diversos estudos clínicos apontando redução significativa nos níveis de PSA (antígeno prostático específico) e diminuição da progressão tumoral. A ingestão de 15 a 30 mg/dia por 3 a 6 meses demonstrou melhorar marcadores inflamatórios e promover apoptose em células cancerosas.
🧬 Câncer de Mama
Em linhagens como MCF-7 e MDA-MB-231, o licopeno reduziu a viabilidade celular, induziu apoptose e aumentou a expressão dos genes BRCA1 e BRCA2. A resposta foi dependente da dose e do tempo de exposição.
🧬 Câncer de Pâncreas e Cólon
Estudos in vitro com células PANC-1 e HT-29 mostram que o licopeno reduz a produção de ROS, inibe a via Akt/mTOR e aumenta a expressão de proteínas pró-apoptóticas. Resultados semelhantes foram observados em modelos animais.
🧬 Câncer Oral, Gástrico e Hepático
O licopeno demonstrou eficácia na redução da inflamação mucosa, inibição de COX-2 e regulação de marcadores de angiogênese, além de atuar sinergicamente com curcumina e compostos flavonoides em modelos de câncer oral e gástrico.
🧬 Câncer Renal e de Fígado
Reduções significativas em marcadores como TNF-α, IL-6, PCNA e β-catenina foram observadas com suplementação oral, sugerindo um efeito protetor hepato-renal, inclusive em modelos de esteatose hepática não alcoólica (NAFLD).
Considerações sobre Dose, Segurança e Aplicações Clínicas
A maioria dos estudos utiliza doses entre 10 e 30 mg/dia de licopeno, isoladamente ou associado a alimentos ricos no composto (como suco de tomate). Não foram relatados efeitos adversos significativos, mesmo em uso prolongado, embora estudos de longa duração ainda sejam necessários para determinar doses ideais e interações medicamentosas — especialmente em pacientes oncológicos sob quimioterapia.
É importante ressaltar que a biodisponibilidade é influenciada por fatores como formulação, tipo de alimento e presença de gordura na dieta. Suplementos lipossomais ou microencapsulados podem aumentar sua eficácia clínica.
Conclusão
O licopeno representa um nutracêutico de alto potencial na prevenção e no suporte ao tratamento de diversos tipos de câncer. Seu amplo espectro de ação, envolvendo a regulação do estresse oxidativo, da inflamação e das vias de sinalização celular, confere-lhe um papel central em abordagens integrativas de saúde. Incorporá-lo à dieta ou por meio de suplementação adequada pode representar um aliado promissor na oncologia nutricional, desde que feito com orientação profissional.
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Referências:
MAAZ, Muhammad et al. A Comprehensive Review on the Molecular Mechanism of Lycopene in Cancer Therapy. Food Science & Nutrition, v. 13, n. 7, p. e70608, 2025.
JIMÉNEZ BOLAÑO, Diana Carolina et al. Potential use of tomato peel, a rich source of lycopene, for cancer treatment. Molecules, v. 29, n. 13, p. 3079, 2024.
UMAPATHY, Vidhya Rekha et al. Therapeutic application of lycopene in preventing oral diseases-a review. Research Journal of Pharmacy and Technology, v. 17, n. 3, p. 1393-1397, 2024.
WANG, Xing et al. Lycopene: a promising adjuvant to photodynamic therapy in oral cancer. Lasers in Medical Science, v. 40, n. 1, p. 252, 2025.





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