Propriedades bioativas e farmacológicas do abacate (Persea americana Mill.)
- Projeto Sementes do Bem
- 9 de jan. de 2024
- 5 min de leitura

O abacate (Persea americana Mill.) é originário do México e da Guatemala, sendo consumido na região desde pelo menos 8000–7000 a.C. Em 2018, a produção mundial de abacate atingiu cerca de 6,4 milhões de toneladas, cultivado em 75 países (FAOSTAT, 2020), com expectativa de crescimento (García-Vargas et al., 2020).
Além de ser consumido como alimento, para os povos indígenas Astecas e Maias, o abacate era uma importante fonte de cura. As folhas eram usadas contra tosses e resfriados, para aliviar diarreia, melhorar o fluxo menstrual, tratar hipertensão, entre outros (Tcheghebe et al., 2016; Gutiérrez and Villanueva, 2007). Atualmente, as folhas ainda são utilizadas para fins medicinais em todo o mundo, como no México, Equador, ilhas do Caribe, Turquia e Nigéria (Brai et al., 2014; Kendir and Köroğlu, 2018; Antia et al., 2005).
A análise química das folhas de abacate revelou a presença de compostos fenólicos, como eugenol, ácido siríngico, ácido vanílico, ácido ferúlico, epicatequina, epigalocatequina, apigenina, naringenina e quercetina (Oboh et al., 2014). Além disso, o extrato etanólico das folhas apresentou procianidina B1 e C1, e uma variedade de flavonóides, incluindo formas mono, di e tri-glicosiladas de kaempferol e quercetina (Yamassaki et al., 2017).
Na categoria de compostos voláteis (óleos essenciais), os compostos mais abundantes nas folhas de abacate são estragol, sabineno e 1R-α-pineno (Granados-Echegoyen et al., 2015). Outro terpeno encontrado nas folhas de abacate é o lupeol (Oboh et al., 2014).
Propriedades Antioxidantes
O extrato aquoso das folhas de abacate, rico em compostos fenólicos como eugenol, ácido vanílico, entre outros, demonstrou capacidade antioxidante. Este extrato inibiu a produção de espécies reativas de tiobarbiturato induzidas por Fe2+ e nitroprussiato de sódio em homogeneizados cerebrais de ratos, além de apresentar atividade de eliminação de radicais, incluindo o DPPH. A presença de açúcares C7, especialmente mannoheptulose, também contribuiu para esse efeito antioxidante, especialmente na porção do fruto (Bertling et al., 2007).
Atividade Antimicrobiana
Um estudo realizado por Nathaniel et al. (2015) avaliou a atividade antimicrobiana de extratos de folhas de abacate obtidos por diferentes solventes, como metanol, clorofórmio, acetato de etila (EtOAc) e éter de petróleo. Os resultados revelaram que a atividade antibacteriana dos extratos foi influenciada pela polaridade do solvente, destacando o metanol como o mais eficaz, com concentração inibitória mínima (CIM) variando de 1,56 × 10–6% (B. subtilis) a 15,96% (S. aureus). Compostos como persin e (E,Z,Z)-1-acetoxi-2-hidroxi-4-oxo-heneicosa-5,12,15-trieno apresentaram atividade antifúngica contra Colletotrichum gloeosporioides, causador da antracnose do abacate (Domergue et al., 2000).
Efeito Analgésico e Anti-Inflamatório
O extrato aquoso das folhas de abacate demonstrou propriedades analgésicas e anti-inflamatórias em estudos com camundongos, evidenciando redução da contorção induzida por ácido acético, aumento do limiar de dor ao calor e inibição da dor induzida por formalina. Adicionalmente, o extrato apresentou inibição dose-dependente do edema de pata induzido por carragenina (Adeyemi et al., 2002; Kendir and Köroğlu, 2018). A presença de flavonóides nas folhas contribui para esses efeitos anti-inflamatórios (Adeyemi et al., 2002; Arukwe et al., 2012).
Propriedades Anticolinérgicas/Atividade Anticonvulsivante
Os extratos aquoso e etílico das folhas de abacate demonstraram propriedades anticolinérgicas in vitro, inibindo a ação das enzimas acetilcolinesterase (AChE) e butirilcolinesterase (BuChE), responsáveis pela quebra de neurotransmissores. Além disso, o extrato aquoso exibiu atividade anticonvulsivante em camundongos, reduzindo convulsões induzidas por pentilenotetrazol (PTZ) e picrotoxina, atribuído à melhoria da neurotransmissão cerebral (Kose et al., 2020; Ojewole and Amabeoku, 2006).
Atividade Anticâncer
As folhas de abacate contêm persina, que demonstrou induzir apoptose em células de câncer de mama humano, bloqueando o ciclo celular na fase G2M e estabilizando microtúbulos. Estudos adicionais evidenciaram a eficácia do persin contra células de câncer de mama receptor de estrogênio negativo (SK-Br3) e receptor de estrogênio positivo (MCF-7 e T-47D), atuando de maneira independente de ER. A combinação com 4-hidroxitamoxifeno (4-OHT) mostrou sinergismo, dependente da expressão de Bim, sem afetar células normais da mama (Field et al., 2016; Roberts et al., 2007).
Peso Corporal e Hiperlipidemia
Os extratos aquosos e metanólicos das folhas de abacate causaram perda de peso em modelos de ratos hiperlipidemicos. O extrato aquoso parece aumentar o catabolismo lipídico no tecido adiposo. Em ratos intoxicados com CCl4, o pré-tratamento oral com extrato aquoso reduziu os níveis de colesterol total e triacilgliceróis, sugerindo potencial proteção contra o desenvolvimento de fígado gorduroso (Brai et al., 2007, 2020).
Infecções do Trato Urinário (ITU)
As folhas de abacate são amplamente utilizadas tradicionalmente para auxiliar na eliminação de pedras nos rins e combater infecções do trato urinário. Esse uso terapêutico é difundido na Turquia e Chipre (Kendir and Köroğlu, 2018).
Propriedades Antidiabéticas
Estudos demonstraram que o extrato aquoso das folhas de abacate possui efeitos hipoglicêmicos em ratos normais, reduzindo os níveis de glicose no sangue. Efeitos semelhantes foram observados com o extrato hidroalcoólico em ratos diabéticos induzidos por estreptozotocina (STZ), com regulação da glicose no fígado e músculos através da proteína quinase B (PKB/Akt) (Antia et al., 2005; Lima et al., 2012). Extratos fenólicos das folhas também mostraram capacidade de inibir enzimas associadas ao diabetes tipo 2 (Obod et al., 2014).
Atividade Hepatoprotetora
Estudos indicam que extratos de folhas de abacate, tanto metanólicos quanto aquosos, exibem atividade hepatoprotetora. A proteção contra hepatotoxicidade induzida por paracetamol (PCM) e CCl4 foi observada em modelos animais, sugerindo uma relação com a atividade antioxidante das folhas (Ekor et al., 2006; Brai et al., 2014).
Atividade Antiúlcera
Pesquisas apontam que extratos aquosos e metanólicos das folhas apresentam atividade antiúlcera. O extrato aquoso mostrou significativa atividade antiúlcera dose-dependente quando administrado oralmente a ratos tratados com indometacina e etanol, inibindo também a secreção ácida estimulada por histamina (Ukwe and Nwafor, 2004; Oluwole et al., 2011).
Propriedades Imunomoduladoras
Uma fração específica das folhas de abacate, rica em arabinogalactano-proteína, exibiu propriedades imunomoduladoras in vitro. Essa fração atuou como inibidor do sistema complemento, mostrando-se comparável à heparina, utilizada como controle para inibição. Os resultados indicam um potencial papel da planta na regulação da resposta imunológica (Yamassaki et al., 2018).
Outros
O óleo essencial das folhas de abacate demonstrou atividade larvicida contra o mosquito Culex quinquefasciatus, vetor de diversos parasitas. O óleo inibiu o crescimento normal e o desenvolvimento das larvas, prolongando a duração larval e pupal. Esses resultados sugerem o potencial uso do óleo essencial como agente de controle de mosquitos (Triteeraprapab et al., 2000; Granados-Echegoyen et al., 2015).
Em resumo, as propriedades bioativas e farmacológicas do abacate (Persea americana Mill.) destacam sua versatilidade como uma fonte valiosa de compostos naturais com potenciais benefícios para a saúde. A fitoquímica das folhas revela uma rica composição, incluindo fenólicos, flavonoides, terpenos e compostos voláteis. Esses bioativos conferem ao abacate propriedades antioxidantes, antimicrobianas, analgésicas, anti-inflamatórias, anticonvulsivantes, anticâncer, antidiabéticas, hepatoprotetoras, antiúlcera, e até mesmo imunomoduladoras.
A presença de compostos como persin destaca-se na pesquisa sobre o potencial anticâncer, demonstrando eficácia em células de câncer de mama. Além disso, os efeitos benéficos na regulação do peso corporal, hiperlipidemia, infecções do trato urinário, e propriedades antidiabéticas enfatizam a diversidade de aplicações terapêuticas do abacate.
No contexto farmacológico, o abacate mostra-se promissor como uma fonte de agentes terapêuticos naturais, fornecendo uma gama de benefícios à saúde que vão além de seu valor nutricional como alimento. A pesquisa contínua sobre o abacate e seus compostos bioativos pode contribuir significativamente para o desenvolvimento de tratamentos alternativos e complementares em diversas áreas da saúde.
Lembre-se, sempre consulte um profissional de saúde especializado para orientações personalizadas. Com a natureza como aliada, estamos trilhando um caminho rumo ao bem-estar e ao restabelecimento da saúde! 🌱✨
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Referências:
CONTRERAS, María Del Mar et al. Phytochemistry and Pharmacology of Persea americana Mill.(Family: Lauraceae): A Review. Bioactives and Pharmacology of Medicinal Plants, p. 347-356, 2022.
Abacateiro uma planta espetacular pra nossa saúde